Equipe da Círculos de Hospitalidade participa de treinamento para aprimorar serviços de inserção laboral de pessoas migrantes e refugiadas

Florianópolis – A Círculos de Hospitalidade iniciou 2024 oferecendo uma série de treinamentos para a equipe técnica e voluntários, buscando tanto atualizar conhecimentos profissionais como conectar propósitos e estratégias para a melhoria nos atendimentos às pessoas migrantes e refugiadas, em especial aos grupos em situação de vulnerabilidade social. 

No treinamento “Boas práticas do atendimento, plano de atendimento e gestão de casos”, Claudia Lazcano, psicóloga cubana e coordenadora do projeto Pró-Comunidade da faculdade Cesusc, apresentou à equipe da Círculos uma proposta de protocolo de atendimento para identificar situações de vulnerabilidade e agir através de três eixos: recuperar, resistir e prevenir. Na avaliação inicial, ela sugere que durante o atendimento a equipe esteja atenta aos indicadores de vulnerabilidade e aos indicadores de proteção, que levam em consideração uma série de questões, entre as quais emprego, moradia, ausência ou presença de base familiar  etc. 

“Acredito que um ponto essencial para realizar um atendimento humanizado é a compreensão desse sujeito como sujeito integral, holístico, entendendo a sua vulnerabilidade, mas também entendendo que o sujeito não é a sua vulnerabilidade, ele possui potencialidades. Esse plano de atendimento tem que dialogar com os interesses, motivações e recursos que o sujeito tem para sair dessa situação”, afirma Claudia.

Ainda segundo a psicóloga, o caminho para um atendimento bem sucedido passa pela criação de vínculos com a pessoa migrante, e para isso é preciso estar aberto à escuta durante o acompanhamento. 

Equipe CH durante treinamento com a psicóloga Claudia Lazcano (de camiseta bege e calça preta).

 

“Quando contamos nossa história percebemos nossos pontos fortes”

Os atendimentos oferecidos pela Círculos de Hospitalidade visam responder às demandas urgentes de pessoas refugiadas e migrantes, assim como oportunizar o alcance de autonomia ao final do acompanhamento individual ou familiar,  período que pode variar de acordo com cada caso. Um dos caminhos para a integração e autonomia do migrante ou refugiado é a inclusão no mercado de trabalho. 

No treinamento “Empregabilidade – Como conduzir um atendimento para a elaboração de currículo e perfil profissional”, Rafaela Pacheco, pesquisadora, voluntária na Círculos de Hospitalidade e psicóloga especializada nas áreas de recrutamento, seleção e orientação profissional de carreira, apresentou estratégias para que no momento do atendimento a equipe possa obter as informações necessárias sobre o histórico pessoal e laboral do migrante para criar um currículo atrativo e alinhado às expectativas do indivíduo. 

Em muitos casos, a mudança para o Brasil pode envolver também uma mudança profissional, devido à dificuldade em reconhecimento de diploma do país de origem, falta de domínio da língua portuguesa entre outras situações. Diante deste cenário, Rafaela aconselha que durante o atendimento a equipe estimule o migrante a contar sua história. De acordo com a psicóloga, contar a trajetória pessoal e laboral pode ser uma maneira de identificar habilidades e competências que podem ser desenvolvidas em um novo contexto laboral, bem como fazer com que o indivíduo valorize sua jornada. “Quando contamos nossa história percebemos nossos pontos fortes”, explica. 

Rafaela também destaca o processo de inserção laboral da população como parte de um trabalho em rede. 

“Precisamos desse compromisso das redes, um compromisso mais amplo para o desenvolvimento tanto da equipe quanto dos migrantes, que aborde a questão do trabalho. Que a gente possa estabelecer os direitos em relação ao trabalho, às condições dignas e sustentáveis de sobrevivência e autodeterminação que precisam ser consideradas nessa responsabilidade compartilhada. O treinamento veio com essa intenção, não é apenas um olhar técnico, mas um olhar para a noção de responsabilidade com os outros, para que possamos estabelecer o trabalho decente para todos”, conclui. 

 

Equipe CH durante treinamento com a psicóloga Rafaela Pacheco (de camiseta colorida e óculos).
Equipe CH durante treinamento com a psicóloga Rafaela Pacheco (de camiseta colorida e óculos).

 

Compartilhamos a seguir algumas orientações que a psicóloga Rafaela Pacheco apresentou à equipe durante o treinamento:

Pontos a serem verificados em um currículo

Erros de ortografia – parecem pequenos, mas podem desqualificar o candidato(a);

Dados desatualizados – podem prejudicar o migrante a continuar o processo seletivo. Certifique-se de que os dados estão atualizados, principalmente telefone e e-mail; 

Experiência profissional deve estar alinhada com a vaga desejada. 

Tipos de currículo

Cronológico reverso: a experiência de trabalho mais recente primeiro

Este formato é indicado para os candidatos que têm algum histórico profissional e acumulam experiências na mesma área de atuação;

Funcional ou fresco: foca em habilidades e realizações 

O foco deste modelo está nas funções desempenhadas e nas qualificações profissionais dos candidatos. As experiências são relacionadas em ordem de importância e permite maior descrição dos cargos exercidos;

Combinação: melhor para pessoas que têm um conjunto de habilidades diversas

Combina as características do currículo cronológico e funcional. Relaciona os cargos na ordem em que foram exercidos na carreira, realçando a experiência profissional adquirida em cada um. 

Acompanhamento durante a inserção laboral 

A equipe de empregabilidade da Círculos de Hospitalidade desenvolveu um plano de acompanhamento para a inserção laboral, que inicia com o cadastro, onde a situação socioeconômica do migrante é identificada, para a partir daí seguir às etapas de confecção de currículo, encaminhamento para vagas, orientações sobre como o próprio migrante pode buscar emprego, e em caso de pessoas em extrema vulnerabilidade – como pessoas em situação de rua –, a equipe da organização realiza uma busca ativa para o beneficiário. 

Ao longo do plano de inserção laboral, os migrantes são estimulados a participarem de oficinas e treinamentos que podem facilitar a conquista de uma vaga de emprego. Além disso, são ministradas oficinas sobre direitos trabalhistas com o intuito de informar e proteger o trabalhador de situações de exploração. 

Impacto social 

Ao longo da trajetória da Círculos de Hospitalidade, mais de 11 mil pessoas refugiadas e migrantes foram diretamente beneficiadas em 22 estados brasileiros. O modelo de atendimento vem sendo construído a partir de uma perspectiva intercultural e integral do acolhimento. 

Em 2023, 1.100 migrantes e refugiados, de 27 nacionalidades, receberam atendimento na área de empregabilidade, totalizando mais de 2.000 atendimentos realizados. Por meio do setor privado, a organização mediou e apoiou a contratação de 200 profissionais migrantes.

Como receber atendimento da Círculos de Hospitalidade

Se você é migrante e precisa de atendimento, preencha o cadastro pelo formulário abaixo e nossa equipe entrará em contato. 

Link para o cadastro

Texto e fotos: Sansara Buriti 

 

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Cynthia Orengo

Vice-presidente

Cynthia é gestora de pessoas e servidora do Ministério Público Federal. Trabalha com projetos que resgatam o princípio da dignidade da pessoa humana, por meio de ações de responsabilidade social e voluntariado. Foi parceira da Círculos de Hospitalidade em diversos projetos e ações, como o Pedal Humanitário, que idealizou junto com a Bruna Kadletz. Apaixonada  pelas causas humanitárias, acredita em um mundo sem muros e fronteiras. Na organização, trabalha com ações de acolhimento, proteção e integração de pessoas deslocadas.