Sara, 24 anos, cresceu no interior do estado de Monagas, na Venezuela, em uma família formada por quatro irmãos. A mãe, dona de casa, e o pai, caminhoneiro e agricultor, levavam uma simples e tranquila com os filhos, numa região rodeada por natureza.
Desde pequena, Sara é uma menina curiosa e interessada por diversos assuntos. Quando chegou a época de entrar na universidade ingressou em dois cursos: História e Fisioterapia.
Mas a partir de 2016, a vida de Sara e de sua família começou a mudar. A crise econômica se agravou e fez com que o pai, provedor da família, fosse para Roraima em busca de trabalho.
“Parei de estudar, pois não havia mais dinheiro. O salário na Venezuela não dava para nada. O que meu pai enviava do Brasil era suficiente apenas para comprar comida. Tínhamos de ir para a fila do supermercado às duas da madrugada para conseguir alimentos básicos, como arroz, mas às vezes nem isso tinha”, relembra Sara.
Nos anos seguintes, o restante da família se mudou para o Brasil. Após três anos em Roraima, decidiram tentar a vida no sul do Brasil. Com o apoio da Operação Acolhida, a família foi interiorizada para a cidade de Tubarão, no sul de Santa Catarina.
Sara chegou em Tubarão em 2022, arranjou emprego como vendedora em uma loja de calçados, mas não se sentia acolhida no ambiente de trabalho e acabou abandonando a vaga.
Em maio de 2023, ela se candidatou a uma vaga numa rede internacional de lanchonetes e foi a primeira contratada do projeto Oportunidades – Integração no Brasil, implementado pela Agência da ONU para as Migrações, OIM, em parceria com a Círculos de Hospitalidade, ONG catarinense.
O desempenho da jovem venezuelana chamou a atenção da gerente. Após três meses na lanchonete, Sara foi promovida ao cargo de treinadora de equipes.
“Ter colaboradores de outra cultura, com outro idioma, é muito bom. Sara é curiosa e traz ideias diferentes, aprendemos uns com os outros”, afirma Gisele Carvalho, que ingressou como atendente e agora gerencia a lanchonete localizada no principal shopping da cidade.
“O bom daqui é que aprendemos coisas novas todos os dias, isso me faz ter vontade de dar o meu melhor. Depois de trabalhar na cozinha, fui atender no caixa.Mesmo não tendo experiência, me deram a oportunidade de ficar e aprender”, diz Sara, acrescentando que a promoção conquistada contribui para que ela se sentisse mais autoconfiante.
O emprego fixo e com carteira assinada tornou possível o apoio de Sara com as despesas da família e a realização de cursos profissionalizantes de beleza e estética, áreas pelas quais se interessa. Sara também sonha em retomar a faculdade.
“Precisamos colocar uma meta em nossa mente e não desistir. Alguns dias serão difíceis, mas isso passa. Sempre haverá um lugar que nos brindará com uma oportunidade. Não desista!”, finaliza a jovem.
Em Santa Catarina, mais de 200 pessoas da Venezuela e de países vizinhos ao Brasil foram contratadas em 2023 por meio do projeto Oportunidades – Integração no Brasil.
Texto e fotos: Sansara Buriti
