Uma flor de lótus em tons de vermelho e lilás preenche o centro da mandala feita por Jessica. Desde o ano passado, a colombiana frequenta as oficinas de arteterapia do projeto Pró-Comunidade, organizadas pela Círculos de Hospitalidade, por meio do projeto Caminhos para a Proteção, em parceria com a faculdade Cesusc, em Florianópolis.
A partir de atividades artísticas, o projeto busca criar um espaço de acolhimento, integração e produção de saúde mental para mulheres migrantes. Atualmente participam mulheres da Venezuela, Paraguai, Argentina, Colômbia e Chile.
“É um espaço onde posso criar, conversar com minhas amigas hispanofalantes, posso ser eu mesma. A gente fica contando os dias para a terça-feira chegar”, diz Jessica Delgado, enquanto faz os últimos acabamentos com tinta em uma pétala da flor de lótus.
Na cultura oriental a flor de lótus carrega uma série de significados, como resiliência, renascimento e pureza, pois o lótus cresce nas profundezas de águas lodosas e alcança a superfície florescendo esplendidamente.
Ao longo de quase um ano de projeto, a professora de pintura de mandalas em vidro Alessandra Caropreso tem presenciado o ‘florescimento’ de muitas dessas mulheres. Nas oficinas, elas encontraram um ambiente seguro para fazer arte e compartilhar as dores, alegrias e desafios da vida de migrante no Brasil.
“A cultura e a arte trabalham muito com a comunicação e nos trazem criatividade. Isso reverbera em todas áreas da vida delas. Elas fazem amizade, se ajudam, é uma rede”, diz Alessandra, membro da equipe da Círculos de Hospitalidade.
As atividades contam com a participação de seis estagiários do curso de psicologia supervisionados por professores do Cesusc. Para incentivar a presença de mães migrantes, é oferecida recreação infantil para as crianças durante o período das oficinas. Claudia Lazcano, psicóloga e coordenadora do Pró-Comunidade, aponta os benefícios da iniciativa.
“O projeto é bom para a comunidade, pois oferecemos um serviço gratuito e de qualidade, e é bom para os acadêmicos, pois estamos formando profissionais com competências interculturais, que ao saírem da universidade já terão experiência para entender o que é ser migrante. A metodologia é pensada junto com as mulheres, não é um processo de produção de saúde mental pensado de dentro pra fora, o processo vai sendo pensado em conjunto”, explica.
Foi a partir da construção coletiva que outras práticas foram incorporadas ao projeto. Em 2023, além da oficina de pintura de mandalas em vidro, foram oferecidas oficinas de yoga, dançaterapia e argila. Para o segundo semestre estão previstos passeios pela cidade em locais sugeridos pelas participantes.
Após recesso no mês de julho, as atividades retornam em agosto.
Texto e fotos: Sansara Buriti