Manhã de domingo, famílias chegam com cadeiras de praia, caixas térmicas e caixas de som tocando salsa. No centro do campo, localizado na Avenida Pequeno Príncipe, no Campeche, região sul de Florianópolis, o educador social Luis Navarro começa a organizar os jogadores. Toda essa mobilização é por um esporte que poucos brasileiros jogam ou acompanham, mas que na Venezuela é uma paixão nacional: o beisebol.
Em plena época de Copa do Mundo de Futebol o assunto por aqui é outro. É que tradicionalmente em dezembro começa a temporada de jogos da Liga Venezuelana de Beisebol Profissional, com transmissões dos jogos pela TV e muita torcida por todo o país. Para abrandar a saudade de casa e manter viva a paixão por esse esporte, Luis criou junto com amigos o time Piratas de Floripa. A equipe vem se destacando no cenário local e faz parte da Liga Catarinense de Beisebol. Além dos treinos para as competições, o time realiza partidas amistosas para reunir as famílias e se divertir.
“Estamos fazendo esse evento com o objetivo de promover a integração das famílias venezuelanas que vivem em Florianópolis. Na Venezuela, eu não jogava muito, mas sempre fui apaixonado por beisebol. Quando cheguei em Santa Catarina, senti que precisava fazer algo que mostrasse minha cultura, então fui chamando todos os meus amigos, meus hermanos, para que pudéssemos criar um time”, conta Luis, presidente do time.
Os Piratas de Floripa jogam beisebol e softbol, uma versão simplificada do beisebol para quadras menores e ginásios cobertos. Enquanto o beisebol utiliza bolas menores e tacos de madeira, o softbol utiliza bolas maiores e tacos de alumínio. No geral, as regras e objetivos são parecidos, mas a estrutura do jogo muda um pouco.
Na partida amistosa daquela manhã de domingo, o grupo se dividiu em duas equipes: Leones del Caracas e Navegantes del Magallanes, em alusão aos dois maiores times rivais no beisebol venezuelano.
“O beisebol está penetrado na nossa pele. Na Venezuela, a criança nasce e já colocam uma camisa de time”, diz Gregorio García, vice-presidente do Piratas de Floripa. O jogador Victor Ramirez complementa: “O beisebol para o venezuelano é como o futebol para o brasileiro. É emoção, diversão, vontade de jogar, competir com outros times. Quando estou jogando, sinto como se estivesse na Venezuela.”
Sentada no gramado, a mãe de Victor acompanha a partida com a neta no colo.
“A maioria aqui está há quatro, cinco anos fora do país. Isso traz um pouco de tristeza, mas vamos nos alegrando ao ver os compatriotas jogarem. Sinto saudade do meu país, de ver os jogos nacionais, é bonito sentir essa emoção”, explica Scarlet Ramirez.
Mesmo com os apertos financeiros para manter o time, Luis Navarro persiste, pois compreende que tanto para os jogadores como para as famílias as partidas do Piratas de Floripa têm um significado que vai além do jogo.
“Passamos por muitas dificuldades desde que começou a crise na Venezuela. Fomos muito afetados psicologicamente, e eu acredito que um evento como o de hoje é um encontro pela paz, pelo amor, pela solidariedade. Queremos que as pessoas saiam daqui com o coração alegre”, afirma Luis.
Partida beneficente
No dia 17 de dezembro, a partir das 8h30, na Avenida Pequeno Príncipe, no Campeche, o Piratas de Floripa realizará uma partida beneficente para arrecadar recursos para a compra de materiais esportivos. Os prêmios da rifa solidária incluem cestas com bebidas e comidas típicas da culinária venezuelana. As informações sobre o evento e a compra de rifas estão no perfil do Piratas de Floripa no Instagram.
Apoio à população em situação de rua
Luis Navarro trabalha como educador social na ONG Nurrevi (Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas), que atende pessoas em situação de rua na Passarela da Cidadania em Florianópolis. No início do ano, a equipe do Projeto Integra*, da Círculos de Hospitalidade, conheceu o trabalho realizado pela organização e trocou experiências com Luis e a equipe. Além da população brasileira, o Nurrevi atende em média 18 imigrantes semanalmente.
Após o encontro, o Projeto Integra promoveu uma capacitação na área de mediação cultural para os colaboradores do Nurrevi.
Luis também participa como voluntário em diversas ações da Círculos de Hospitalidade.
*O Projeto Integra é implementado pela Círculos de Hospitalidade de acordo com o termo de colaboração firmado com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Convênio 917921/2021, e realizado com o financiamento do Edital de Chamamento Público SENAJUS N° 01/2021.
Texto e fotos: Sansara Buriti