Florianópolis recebeu no dia 12 agosto a senhora Ashwini K.P., Relatora Especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) em formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias correlatas e a Círculos de Hospitalidade foi convidada a falar sobre uma forma de intolerância e violência que geralmente é esquecida e invisibilizada em debates sobre a temática no Brasil, a interseção entre a xenofobia e a islamofobia.
Islamofobia pode ser compreendida como medo, preconceito e ódio aos muçulmanos que leva à provocação, hostilidade e intolerância por meio de ameaças, assédio, abuso, incitação e intimidação tanto de muçulmanos quanto de não muçulmanos, tanto no mundo online quanto offline. Motivada por hostilidade institucional, ideológica, política e religiosa que se traduz em racismo estrutural e cultural, visa os símbolos e marcadores de ser muçulmano (ONU, 2024).
Muito embora as demonstrações de islamofobia têm se tornado mais frequente no dia a dia de muçulmanos, particularmente após o 7 de outubro, ainda há pouca visibilidade sobre os xingamentos, ameaças, perseguições, ataques verbais e físicos sofridos por pessoas que proferem a fé islâmica em território brasileiro. E, consequentemente, uma subnotificação dos casos e impunidade dos perpetradores. Um levantamento feito pela Anaji (Associação Nacional dos Juristas Islâmicos) aponta um aumento em 800% nas denúncias, sendo que 70% das denúncias foram feitas por mulheres, desde o início da Guerra em Gaza.
O Primeiro Relatório de Islamofobia no Brasil, publicado em 2023 sob a coordenação da professora e antropóloga Francirosy Campos Barbosa, contou com a participação de 653 muçulmanos e revela que 82% dos homens e 92% das mulheres já foram vítimas de islamofobia, principalmente na forma de agressões verbais, sendo a rua o principal local onde os casos aconteceram.
Em Santa Catarina, não há dados e levantamentos que demonstrem ou detalhem esta forma de racismo. Desde 2015, a Círculos acompanha inúmeras famílias muçulmanas no estado. Devido a proximidade com a comunidade, e por termos ciência da problemática, em março de 2024, realizamos uma Conferência Livre, como etapa preparatória da II Comigrar, na Mesquita al Khalifah – Centro Islâmico de Florianópolis com o objetivo de escutar as experiências de pessoas refugiadas e migrantes muçulmanas, visibilizar a intersecção entre a xenofobia e a islamofobia, e elaborar propostas de políticas.
Nos relatos, os participantes compartilharam situações e histórias pessoais de islamofobia em quatro esferas: nas ruas, nas redes sociais, nos serviços públicos e nos ambientes de trabalho e escolar.
A islamofobia existe num contexto histórico e político, é multifacetada e disseminada globalmente. Não há como estudarmos ou combatermos a xenofobia e o crescente sentimento anti-refugiado, e criarmos políticas de acolhimento e inclusão centrados na dignidade humana sem compreendermos o conceito de orientalismo e a narrativa que constrói e retrata muçulmanos como uma ameaça e os desumaniza. Xenofobia e islamofobia são crimes. Em situações de xenofobia e outras violações de direitos humanos, denuncie! Disque 100.