O Centro Socioeconômico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, abriu as portas no dia 16 de setembro para receber o mutirão de documentação, acesso a direitos e empregabilidade realizado pela Círculos de Hospitalidade. Ao longo do dia, 108 pessoas foram atendidas, sendo que 49 participaram de entrevistas de emprego com recrutadores de duas grandes empresas catarinenses das áreas de supermercados e de materiais de construção.
Além disso, 40 migrantes foram encaminhados para 109 vagas em diversas áreas em outras empresas parceiras da Círculos.
Ainda na área de empregabilidade foram confeccionados 16 currículos para migrantes que não possuíam esse tipo de documento fundamental para quem está em busca de oportunidade de emprego. Na área de documentação migratória 62 pessoas receberam atendimento nesse que foi o maior mutirão já realizado pela Círculos de Hospitalidade em Florianópolis.
Durante o evento estiveram presentes voluntários e equipes técnicas dos projetos “Caminhos Para a Proteção”, “Projeto Integra*” e “Projeto Oportunidades – Integração no Brasil” – todos implementados pela Círculos de Hospitalidade, sendo os dois últimos realizados por meio de parcerias com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Agência da ONU para as Migrações, OIM, respectivamente.
“Em oportunidades como a de hoje aproveitamos para reforçar o relacionamento com as empresas parceiras, que acabam entendendo um pouco mais sobre a situação da migração e do refúgio e são sensibilizadas a pensar em outras formas de contratação”, diz Daniela Heidemann, gestora de parcerias na Círculos de Hospitalidade.
Desde o início da implementação do “Projeto Oportunidades – Integração no Brasil”, em fevereiro deste ano, foram firmadas parcerias com 29 empresas atuantes em Santa Catarina e em outros estados brasileiros. Até o momento, 130 migrantes foram contratados.
“Recebi mensagem de uma empresa parceira informando que uma migrante contratada em abril desse ano na cidade de Tubarão, SC, foi promovida. Essas e outras histórias não deixam dúvida de que nosso trabalho tem significado e importância para as famílias”, conclui Daniela, acrescentando que há empresas parceiras que chegam a contratar todos os membros de uma mesma família, situação que impacta consideravelmente na renda e contribui para a melhoria da qualidade de vida do grupo familiar.
A venezuelana Genesis Aguilera, 25 anos, veio ao mutirão com as duas filhas – uma com 9 anos, outra com 1 ano e oito meses, em busca de emprego e de atendimento para regularizar o documento de autorização de residência no Brasil. Com o segundo grau completo, ela conta que antes de deixar a Venezuela havia iniciado um curso de gastronomia, mas teve de abandonar por causa da crise econômica que assola o país. Assim como milhares de outros conterrâneos, a jovem deixou o país de origem em busca de melhoria de vida. Atualmente ela realiza diversos tipos de trabalhos informais, como faxinas, para manter as filhas.
“Já trabalhei como cozinheira, operadora de caixa, repositora, vendedora de cosméticos…faço um pouco de cada coisa para não ficar sem opção. Hoje no mutirão achei as pessoas muito atenciosas. Também achei bem legal o espaço de recreação para as crianças, me senti segura e confortável”, afirma Genesis. Ela foi entrevistada por recrutadores de uma das empresas parceiras e agora está na expectativa de finalmente conquistar um emprego com carteira assinada.
As crianças de Genesis e de outros migrantes presentes no mutirão foram cuidadas por voluntárias do curso de Relações Internacionais da UFSC, que além desse espaço deram suporte ao evento nas áreas de pré-documentação e cadastro, assim como os integrantes da Associação dos Estudantes Guineenses em Santa Catarina (Aeguisc) e estudantes haitianos da UFSC.
O apoio de voluntários também veio de fora do circuito da universidade. A administradora Aline da Costa Pick e o médico Daniel Assis, residentes no município de Palhoça, na Grande Florianópolis, se inscreveram para atuar como voluntários na Círculos de Hospitalidade. Após passar por um treinamento oferecido pela equipe técnica da organização, o casal foi chamado para apoiar na recepção do evento.
“Foi gratificante, a gente se sentiu muito útil. Realmente tocou o meu coração, achei as pessoas muito solícitas. Além da gente estar recepcionando, nos sentimos recepcionados pelas famílias”, conta Aline. Ela e Daniel costumam fazer doações para organizações que atuam na área da migração, mas sentiam vontade de participar de forma presencial de ações voltadas à população migrante e refugiada. Para o médico, a experiência com a Círculos de Hospitalidade foi motivadora.
“Isso [trabalho voluntário] é algo que quero levar para o resto da vida. Ajudar para que refugiados e migrantes possam dar seguimento às suas vidas com dignidade era algo que eu queria fazer há muitos anos. Todos merecem os mesmos direitos, qualidade de vida, felicidade e conforto”, afirma Daniel.
Outra atividade promovida durante o mutirão foi a roda de conversa para pessoas migrantes e refugiadas sobre saúde mental e acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). O encontro foi elaborado em parceria com o Núcleo de Estudos sobre Psicologia, Migrações e Cultura (NEMPsiC), do curso de Psicologia da UFSC, e com estudante haitiano de medicina Richadson Yonnel Civil, da UFSC.
Texto e fotos: Sansara Buriti
*O Projeto Integra é implementado pela Círculos de Hospitalidade de acordo com o termo de colaboração firmado com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Convênio 917921/2021, e realizado com o financiamento do Edital de Chamamento Público SENAJUS N° 01/2021.
