Diariamente, a equipe técnica e os voluntários da Círculos de Hospitalidade se deparam com casos complexos de pessoas migrantes e refugiadas que chegam ao nosso escritório em situação de vulnerabilidade socioeconômica e com a saúde mental impactada. Com o objetivo de oferecer um atendimento cada vez mais qualificado para essa população foi realizado no dia 15 de agosto, na faculdade CESUSC, em Florianópolis, um treinamento para nossa equipe.
A atividade foi conduzida pela psicóloga cubana Claudia Lazcano, doutora em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e diretora do projeto Pró-Comunidade, da Faculdade CESUSC. Claudia também já atuou na equipe de atenção psicossocial da Círculos de Hospitalidade.
Durante o encontro, Claudia ouviu os desafios relatados pela equipe e apresentou possibilidades para atuar em circunstâncias difíceis. Também abordou a importância da equipe em reconhecer e lidar com suas limitações em momentos onde o atendimento não é capaz de resolver de forma imediata a demanda trazida.
Círculos de Hospitalidade – Como foi pensado esse treinamento para a equipe da Círculos de Hospitalidade?
Claudia Lazcano – Pensei em trazer um treinamento que fosse útil e que criasse competências para que a equipe possa cada vez mais realizar um atendimento acolhedor, que eu acho que a principal demanda das pessoas que buscam atendimento da Círculos. Há muita vulnerabilidade, muitas necessidades, mas a principal delas é receber um atendimento acolhedor.
Esse foi o foco do treinamento, como atender o conjunto de demandas, mas sempre a partir dessa perspectiva do acolhimento e do respeito à questão da interculturalidade, e de como fazer isso com cada população que é acolhida.
Círculos de Hospitalidade – Uma das coisas que você falou durante o treinamento foi sobre entender a necessidade imediata daquela pessoa que está vulnerabilizada, mas também enxergar suas potencialidades Por que isso é importante?
Claudia – Eu acho que é uma chave para um atendimento diferenciado, no sentido de oferecer um atendimento que seja centrado na pessoa, que respeita as particularidades individuais dessa pessoa, mas que entenda que o sujeito não é a sua vulnerabilidade, esse sujeito é muito mais do que isso, tem recursos, potencialidades. A gente precisa partir desse lugar para poder acolher, entender e transformar a situação de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra. É preciso entender o sujeito para além da sua situação atual e ser uma ferramenta nesse processo de mudança.
Círculos de Hospitalidade – “Um bom acolhimento é terapêutico”, você trouxe essa reflexão para o grupo.
Claudia – Eu gosto de pensar que o acolhimento não é apenas a criação de um vínculo que vai facilitar um atendimento. O acolhimento é a finalidade em si. Então a gente tem que colocar isso como um objetivo nesses encontros, não usar isso para chegar em outra finalidade – que é entender a situação, criar um plano etc. O acolhimento é um objetivo em si mesmo, é uma ferramenta, um processo, uma técnica para fazer o trabalho.
Círculos de Hospitalidade – Esse treinamento ocorre dentro da parceria da Círculos com o projeto Pró-Comunidade. Pode nos contar mais sobre essa parceria?
O Pró-Comunidade tem uma parceria com a Círculos, parte dela inclui oficinas de arteterapia para mulheres migrantes, espaço de recreação infantil para que as mulheres que participam das oficinas consigam trazer as crianças. Também temos uma parceria para a realização de oficinas de empregabilidade, e agora mais essa atividade de treinamento para que a equipe consiga continuar fazendo o seu trabalho.
Texto e fotos: Sansara Buriti