Artistas participam de conversa sobre xenofobia e refletem sobre a diversidade cultural como potência agregadora

A conversa virtual mediada por Clefaude Estimable, psicólogo e mediador cultural no Projeto Integra, contou com a participação de Ermi Panzo, escritor, poeta, artista plástico, coreógrafo e ativista cultural angolano, e da cantora e compositora de música folclórica venezuelana Ninoska Pottella. 

Ermi iniciou a conversa fazendo uma crítica sobre como a imposição do eurocentrismo afetou a visão que as pessoas negras no Brasil têm sobre elas mesmas.

“Por parte da negritude há uma orfandade aqui no Brasil. A negritude aqui é órfã porque não se entende, não se conhece. Se você falar com um brasileiro negro, depois do avô, do bisavô, ele não sabe (de onde veio), o sistema aniquilou esse passado. Depois, ao se sentir perdido, onde é que ele se acolhe? No molde: em figuras sociais eurocêntricas”, diz Ermi, idealizador do movimento cultural Afrikanse – Arte e Cultura Africana nas Diásporas. 

Para o artista angolano, a hegemonia cultural contribui para a discriminação e para a xenofobia, pois, a partir do não reconhecimento da diversidade cultural, cria um ambiente de hierarquização e exclusão de pessoas. Por meio de seu trabalho como artista e ativista, o jovem angolano busca recuperar e disseminar a cultura e os valores africanos baseados na colaboração e na coletividade. 

“Trago os ensinamentos e a ancestralidade para meu povo negro aqui. Os demais vão entendendo e se desconstruindo. Trago as danças, o cotidiano da minha família, um pouco do que pode ser uma ferramenta para algumas pessoas começarem a se identificar”, explica Ermi, que vive há seis anos em São Paulo.

Ele destacou ainda o projeto “África não é um país”, um perfil no Instagram dedicado à desconstrução de esteriótipos reducionistas sobre o continente africano.

Ermi Panzo, artista angolano, busca disseminar no Brasil o espírito comunitário dos povos africanos. (Foto: arquivo pessoal)

De Caracas para Curitiba

Vivendo em Curitiba, Ninoska Pottella acredita que a arte tem a capacidade de abrir portas e construir diálogos entre brasileiros e imigrantes e refugiados. A partir de 2016, quando a migração de venezuelanos para o Brasil se intensificou, ela sentiu um chamado para criar músicas e poesias que tratassem do tema da migração e do refúgio. 

Em uma das músicas apresentadas durante a conversa, Ninoska canta sobre o deslocamento de seus compatriotas: “Mucha gente caminando, cruzaremos la frontera, con el corazón en la mano y la razón en la maleta (…) Amor, compasión, por un mundo mejor.”

Em Caracas, Ninoska tinha uma carreira estabelecida como cantora pela produtora do maestro e compositor Hugo Blanco, autor de canções internacionalmente conhecidas, como “Moliendo Café”. 

Por ser apaixonada pela música do Brasil, Ninoska conta que se apresentava em bares da Venezuela cantando clássicos da música popular brasileira, além de suas composições e o cancioneiro folclórico venezuelano.

Na capital paranaense seu trabalho como artista vem se tornando cada vez mais conhecido e valorizado. Em 2020, ela ganhou um prêmio de reconhecimento cultural pelo governo do estado, produziu videoclipes para os projetos “Feitos de Coragem” e “Narrativas de Exílios”. Também participou do projeto “Rumos” do Itaú Cultural e de vários festivais. 

“A diversidade é um poder. Se as pessoas entenderem que a diversidade é um poder cultural, vamos ser uma potência”, acredita Ninoska. 

Ninoska Pottella compõe músicas que falam sobre processos migratórios e união entre os povos. (Foto: arquivo pessoal)

*O Projeto Integra é implementado pela Círculos de Hospitalidade de acordo com o termo de colaboração firmado com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Convênio 917921/2021, e realizado com o financiamento do Edital de Chamamento Público SENAJUS N° 01/2021.

Texto: Sansara Buriti

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Cynthia Orengo

Vice-presidente

Cynthia é gestora de pessoas e servidora do Ministério Público Federal. Trabalha com projetos que resgatam o princípio da dignidade da pessoa humana, por meio de ações de responsabilidade social e voluntariado. Foi parceira da Círculos de Hospitalidade em diversos projetos e ações, como o Pedal Humanitário, que idealizou junto com a Bruna Kadletz. Apaixonada  pelas causas humanitárias, acredita em um mundo sem muros e fronteiras. Na organização, trabalha com ações de acolhimento, proteção e integração de pessoas deslocadas.